Saudações de Sêneca a Lucílio.
Infeliz é aquele que não se considera feliz.
Non est beatus, esse se qui non putat.[10]
O que importa a situação em que você se encontra, se ela é ruim a seus próprios olhos?
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
[1] NT: Ver Epicuro, Cartas e Princípios.
[2] O termo grego ἀπάθεια (Apatheia) significa literalmente “ausência de sofrimento”, daí vem o termo apatia em português.
[3] NT: Isto é, escola cínica.
[4] Fídias foi um célebre escultor da Grécia Antiga. Sua biografia é cheia de lacunas e incertezas e o que se tem como certo é que ele foi o autor de duas das mais famosas estátuas da Antiguidade, a Atena Partenos e o Zeus Olímpico, e que sob a proteção de Péricles encarregou-se da supervisão de um vasto programa construtivo em Atenas, concentrado na reedificação da Acrópole, devastada pelos persas em 480 a.C.
[5] NT: em Latin, quas temporarias, tempo bom.
[6] A distinção baseia-se no significado de egeret “estar em falta de” algo indispensável, e opus esse, “ter necessidade de” algo do qual se pode prescindir.
[7] NT: Ver Diógenes Laércio, Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, livro VII.
[8] NT: Alusão à teoria estoica da conflagração (ekpyrosis). Segundo esta teoria estoica, o mundo se renovaria de tempos em tempos, o mundo se resumiria ao fogo artífice (Logos = Zeus = Inteligência universal) e todos os demais deuses seriam tragados nesta unidade primordial. O processo cosmogônico daria origem a outro mundo que, para alguns estoicos, seria uma repetição de tudo o que vivemos. Daí que tudo aconteceria novamente, e todos renasceriam, mas (como disse Sêneca numa carta), sem qualquer lembrança de uma vida anterior. Então, se esta teoria fosse verdade, esta poderia ser nossa bilionésima vida, e pra nós não faria diferença, pois não teríamos consciência disso. Essa teoria reflete a concepção grega do eterno retorno. Ver George Stock, Estoicismo.
[9] NT: Demétrio I (337 a.C. — 283 a.C.), cognominado Poliórcetes, foi um rei da Macedônia. Seu apelido, “cidade sitiada” (Poliorketes), refere-se à sua habilidade militar em sitiar e conquistar cidades.
[10] Autor desconhecido, talvez uma adaptação do grego. Alguns eruditos atribuem o verso a Publílio Siro
A filosofia estoica, com suas raízes profundas na busca pela sabedoria e na busca pela virtude, traz à tona questões vitais sobre a autossuficiência e a natureza das amizades. A Carta 9, escrita por Sêneca a Lucílio, oferece um tratado substancial sobre esses temas, delineando a perspectiva estoica sobre a autossuficiência do sábio e a importância das amizades verdadeiras na jornada da vida.
Sêneca inicia a carta abordando a crítica de Epicuro à ideia de que o sábio seria autossuficiente e, portanto, dispensável de amizades. A discussão é enriquecida pela distinção entre a interpretação grega do termo "apatheia" (ἀπάθεια) e seu entendimento no estoicismo. Sêneca destaca a noção de uma alma invulnerável, capaz de rejeitar sensações de maldade, ao invés de uma alma insensível.
Um dos pontos cruciais apresentados por Sêneca é a dualidade entre a autossuficiência e a necessidade de amizades. Enquanto o sábio estoico é capaz de se contentar consigo mesmo, ele também valoriza a presença e a prática das amizades. Sêneca ressalta que o sábio não necessita de amigos para sua própria felicidade, mas os deseja para a prática da amizade e para o desenvolvimento de qualidades nobres.
A distinção entre amizades autênticas e aquelas baseadas em interesses temporários é enfatizada por Sêneca. Ele destaca a nobreza das verdadeiras amizades, desprovidas de interesses utilitários ou egoístas. O sábio busca amizades genuínas, nas quais pode confiar plenamente, e está disposto a sacrificar-se por seus amigos, não esperando benefícios materiais ou favores em troca.
A capacidade do sábio de enfrentar as adversidades mantendo sua serenidade interior é ilustrada por Sêneca através do exemplo de Estilpo. Mesmo após perder seus bens e entes queridos, Estilpo afirmou não ter perdido nada, evidenciando a força interior e a capacidade do sábio de se manter equilibrado diante das dificuldades.
Sêneca reitera a ideia de que a felicidade verdadeira está intrinsecamente ligada à autossuficiência e à prática das amizades verdadeiras. O sábio é capaz de suportar adversidades e preservar sua serenidade interior, mantendo-se firme em seus valores e qualidades nobres, independente das vicissitudes externas.
A Carta 9 de Sêneca a Lucílio é um compêndio valioso que destaca os princípios éticos e filosóficos fundamentais da escola estoica. Proporciona insights sobre a autossuficiência, a valorização das amizades genuínas e a força interior necessária para enfrentar as vicissitudes da vida.
Nas palavras de Sêneca, a busca pela sabedoria estoica não apenas delineia os contornos de uma vida virtuosa, mas também oferece um guia para a compreensão de como podemos nos tornar mais resilientes, éticos e serenos em meio às complexidades do mundo.
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